sexta-feira, novembro 25, 2005

Lembrar o 25 de Novembro de 1975
Hoje, há 30 anos, também lá estive... à porta da Base Aérea de Monte Real, a lutar pela liberdade de poder estar hoje, aqui, a escrever.
Obrigado a todos os que, de uma maneira ou de outra, fizeram muito mais que eu e foram tão generosos que pensaram tão pouco em si próprios que hoje ninguém sequer os recorda, quanto mais agradecer a Democracia que temos.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Maluco bloqueia cidade...
... e a PSP deixa
Um cromo qualquer, que se diz ter sido polícia, bloqueou hoje a minha cidade (ou melhor, parte dela), fechando-se numa auto-caravana estacionada à porta do Tribunal.
Ao que parece, o homem contesta uma qualquer decisão do Tribunal e ameaça fazer ir pelos ares o veículo em que se encerrou, o Tribunal e mais uns edifícios ali à volta.
Isto aconteceu às primeiras horas da manhã e agora, cerca das 18 horas, mantém-se o aparato: polícias por todos os lados, PJ's idem, mirones às carradas, jornalistas aos montes. Tudo bem! Cada um faz do seu tempo o que quer ou pode.
O que me parece muito mal é que se permita o bloqueio do trânsito ao nível do que se está a verificar, com a cidade quase cortada ao meio e à hora de saída dos empregos e das escolas.
Ao que se diz, a polícia prepara-se para uma intervenção nocturna, supostamente para ocorrer longe dos olhares da populaça...
Ora, e salvo melhor opinião, isto é inconcebível: em primeiro lugar, pela imagem de ineficiência que transmite e pelo sinal de desrespeito ao próprio Tribunal, fechado por um único tipo; em segundo lugar, pelos transtornos continuados que causa às pessoas.
Se a polícia não pode ou não quer dialogar com o tipo (ou se o 'diáologo' não chega a lado nenhum) há que intervir. E se a situação é grave e complicada, evacuam-se os edifícios, afastam-se mirones, jornalistas e quejandos e actua-se!
Admito que fosse preciso montar o esquema, chamar especialistas... Mas este circo, francamente!, é de mais.
A PSP da minha cidade é branda com marginais e quejandos e dura com os pacatos. A PSP da minha cidade (melhor, o seu comandante) permite-se até ter opiniões sobre o governo local. A PSP da minha cidade não sabe bem o que anda a fazer.
Ou será que é a PSP no seu todo? Com o País neste estado nem me admiraria...
O facto é que a ordem pública foi alterada (não posso circular por onde quero!) e, por enquanto, cerca de dez horas depois da ocorrência, nada foi feito para restabelecer a normalidade.

segunda-feira, agosto 22, 2005

O Governo, o País e os fogos
Há cada vez mais situações inexplicáveis neste cenário de fogos por todo o lado.
Ardeu Pombal, ardeu Leiria, ardeu Ourém, ardeu sei lá mais o quê e onde no início do mês... Os meios eram suficientes, o primeiro-ministro podia continuar de férias e longe de nós a necessidade de pedir ajuda a países terceiros.
Ardeu Pampilhosa da Serra, ardeu Figueiró dos Vinhos, ardeu Miranda do Corvo, ardeu sei lá mais o quê e onde na semana passada... Sª Exª José Sócrates, PM de Portugal, dignou-se visitar algumas áreas ardidas e balbuciar umas palavras perante a revolta popular.
Ah! E Sª Exª o Presidente da República imperrompeu as férias para ir a um gabinete qualquer de "coordenação" aconselhar os patrões a libertar os seus trabalhadores que fossem bombeiros para acudirem aos fogos.
Já me esquecia... Sª Exª José Sócrates também arengou algo do género, apelando à vigilância popular na defesa das florestas...
E agora, que arde Coimbra, arde o Alto Minho, arde tudo um pouco por toda a parte... já foi preciso recorrer a meios aéreos estrangeiros!
Extraordinário!
Mas mais extraordinário é o que se estará a passar agora - agora mesmo - em Coimbra! "Meio governo" está reunido na "cidade dos doutores" para preparar medidas de apoio blá, blá, blá!...
Extraordinário!
Enquanto ardeu o "Portugal profundo" - a "província" - não era preciso tomar medidas, não era preciso sair de Lisboa, a não ser para ver cinzas com o ar mais compungido que fosse possível afivelar. Mas eis que a terceira cidade do País é atingida e aí vêm eles, a correr, anunciar medidas...
Lamento a (má) sorte das gentes de Coimbra, como as de todas as outras povoações atingidas e prejudicadas, arruinadas, pelos fogos. Mas é incompreensível que tenha que se esperar por 'isto' para o Governo deixar de arrastar os pés, como Sócrates acusava os anteriores governos.
Não somos o mesmo país, não somos o mesmo povo, não temos a mesma importância perante o Estado e quem o governa!
Há cidadãos de primeira, de segunda, de terceira... e sabe-se lá quantas mais categorias.
Permito-me adivinhar que os habitantes de Coimbra cujos bens foram atingidos pelo fogo têm muito maior probabilidade de terem esses bens no seguro do que o povo dessas incontáveis povoações por onde o fogo já passou e que até o dinheiro levou! E é para Coimbra que o Governo vai a correr?
Não tenho palavras...
Inacreditável? É pouco.
Indecente? É pouco.
Repugnante? É pouco.
É tudo pouco!
Se tivessem vergonha, dignidade ou apenas aquilo a que chamam "ética republicana", iam-se todos embora. Sampaio incluído...

segunda-feira, agosto 15, 2005

Sua Excelência "pirou", ou é mesmo assim?
O cidadão Jorge Sampaio - ao que parece ainda Presidente da República - resolveu condecorar os membros de uma 'banda' de que deve gostar muito.
Sua Excelência está, dia após dia, a revelar-se a mais completa desilusão da nossa política de 30 anos.
Condecorar os U2 com a Ordem da Liberdade? A propósito de quê?
O cidadão Jorge Sampaio tem o direito de gostar da música da banda A ou do cantor B. E tem todo o direito de ir assistir (ou mesmo participar...) aos espectáculos dos seus preferidos. Mas o Presidente da República Portuguesa NÃO PODE abusar das suas funções. E muito menos pode, em Portugal, dirigir-se seja a quem for noutra língua que não a Portuguesa (salvaguardem-se umas palavras de circunstância e simpatia...).
Francamente não percebo!
A que propósito se condecoram quatro tipos que ganham rios de dinheiro com músicas que boa parte dos seus ouvintes provavelmente não percebem? Por defenderem 'causas humanitárias' e a liberdade?
Mas quantos portugueses fazem o mesmo ou mais ainda, sem o devido reconhecimento de Sua Excelência?
Felizmente, o mandato está a acabar...
(A única coisa que, do meu ponto de vista, correu bem na 'cerimónia' foi o tal de Bono responder ao PR em Português)

sábado, abril 30, 2005

Há 60 anos, em Berlim...
Hoje, há 60 anos, Adolf Hitler terá dado um tiro na cabeça. Provavelmente nunca se saberá se se suicidou ou foi suicidado, nem me parece que isso seja muito importante.
A morte do ditador, de uma das mais sinistras figuras do século XX (quiçá de sempre...), nada acrescentou ao desfecho da guerra que provocara, sendo apenas o corolário lógico da demência do regime nazi.
Quarenta e oito horas antes, Mussolini – seu aliado – fora assassinado. Vinte e quatro horas antes, a Itália rendera-se aos Aliados. Quarenta e oito horas depois, o exército soviético ocupa o que resta de Berlim.
Era o fim de anos de demência, crueldade extrema, da pior guerra que o Mundo vivera. Era o fim de um dos períodos mais fascinantes da História. Como foi possível?
Como foi possível que um povo inteiro seguisse – e fosse de alguma forma cúmplice – de um homem como Hitler? Como foi possível que as democracias ocidentais não percebessem o que ali vinha? Como foi possível Munique?
Como foi possível? Quem leu ‘A minha luta’ – e os líderes democratas tinham a obrigação de o ler… – não podia ter dúvidas… Estava lá tudo: o ódio aos judeus e outras “raças inferiores”, a supremacia dos alemães, a necessidade do “espaço vital”…
É esse o fascínio. Por mais que leia, não consigo perceber como foi possível.
Hoje, guardemos um minuto de silêncio pelas incontáveis vítimas do nazismo.

quarta-feira, abril 20, 2005

Oh!!! Portugal perdeu...
O conclave cardinalício escolheu, creio que à terceira votação, o sucessor de João Paulo II. Escolheu Joseph Ratzinger, agora Bento XVI.
Os cardeais acertaram no nome próprio, mas erraram na nacionalidade... Será que escrever em alemão é mais fácil do que escrever em Português? Caramba! De três 'Josés' haviam logo de escolher o único não português!
Ora bolas! Está um país todo em suspenso, comunicados preparados, foguetes adquiridos... e sai 'isto'...
Como é possível que aquelas 113 almas - sim porque os dois portugueses ou votaram neles próprios ou um no outro... - tenham olvidado a qualidade dos 'nossos' cardeais? Não sabem que o que é nacional é bom?
Pronto! Percebe-se que Saraiva Martins estivesse fora de jogo... Saiu há muitos anos de Portugal, não tem lóbi por estes lados. Agora Policarpo?! Parece impossível!
Como é possível? Então o País mobilizou-se, nas rádios, nos jonais, nas televisões, numa quase unanimidade de análise e acontece isto? Então a terceira via? Não compareceu? Então não ouviram o nosso Presidente? Não repararam na importância da disponibilização de um avião para D. José Policarpo chegar a horas?
E agora José? Será que o patriarca de Lisboa tem que regressar à boleia?

domingo, abril 17, 2005

Sobre a limitação de mandatos
Vai um pouco acesa a discussão sobre a limitação de mandatos de alguns titulares de cargos políticos electivos.
Ao que parece, e se a lei passar no Parlamento, ficam excluídos os senhores deputados e todos os membros dos governos, à excepção do primeiro-ministro.
Tudo isto me parece mal.
Logo à partida porque os senhores (e senhoras) que vão aprovar a lei se deixam ficar de fora…
Depois – e talvez devesse ser a primeira razão – porque me parece inconcebível esta limitação ‘democrática’.
E ainda porque se deixa de fora o essencial, que é a completa reforma do sistema político.
Vejamos com algum pormenor.
1. Sendo que a democracia é o sistema de governo dos povos em que estes confiam a seus representantes a gestão da res publica, não consigo entender que se limite o tempo de desempenho dos cargos, para além da natural duração de cada mandato.
Parte-se do princípio que os homens são intrinsecamente corruptos ou corruptíveis e que o conjunto dos eleitores não sabe o que quer.
Isto é tão disparatado como o direito de herança nas monarquias: uns nascem maus por natureza (e têm que ser vigiados e controlados) e outros nascem por natureza bons…
2. Não percebo, por outro lado e admitindo a inevitabilidade da limitação dos mandatos, a razão por que os deputados ficam de fora. Então mas não é o Parlamento a sede do poder, o lugar onde se fazem e aprovam as leis? Então mas os deputados não têm poder de influência, e muito mais opaca do que os autarcas e outros visados pela presumível lei?
Isto é mais ou menos simples. Ao fim de 12 anos, o ‘senhor A’ é considerado ‘incapaz’ para presidente de Câmara (porque criou teias de influência subterrânea, etc…) mas é ‘virgem’ par deputado, onde pode fazer o resto da vida política com as mesmas teias do seu tempo de autarca. Parece-me bem!...
3. Finalmente, porque se continua a manter um sistema global pouco transparente e gerador do efectivo e comprovado afastamento dos cidadãos relativamente à política e aos políticos.
Coisas como a criação de círculos uninominais, a alteração da constituição dos executivos municipais e os poderes do Presidente da República não são tema de debate…
Continuamos a conviver com um conjunto de eleitos que ninguém conhece, cujo desempenho não é sujeito a escrutínio e que se eternizam nos lugares.
Continuamos a não conhecer as teias de interesses que se geram entre o Parlamento e os outros ‘mundos’, sejam eles os da Economia, da Cultura ou do Desporto, entre muitos outros.
Continuamos a conviver com executivos municipais que não são mais que pequenos parlamentos e Assembleias Municipais com laivos de corporativismo e onde os presidentes de Junta de Freguesia não deviam ter lugar.
Continuamos sujeitos a actuações no mínimo esquisitas de um qualquer Presidente da República, esse sim londe de qualquer escrutínio dos cidadãos, até porque têm a tendência para se transformarem entre o primeiro e o segundo mandatos.
Assim não vamos lá.

Sª Exª, o MNE
Diogo Freitas do Amaral, o distinto ministro dos Negócios Estrangeiros, publicou um excelente livro, corria o ano de 2003... "Ao correr da memória - pequenaas histórias da minha vida", assim se intitula a obra.
E que obra!...
Para lá de imensas pérolas de um pensamento absolutamente 'centrista', seja lá o que isso for..., Sª Exª brinda-nos com tiradas como estas:
"Os lugares que havia vagos eram sempre «de menos» para mim; e aqueles que me poderiam servir, por serem «bons», estavam ocupados" - a propósito de uma 'candidatura' a um lugar na Fundação Gulbenkian.
"Não podendo ir a todo o lado [enquanto presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas], escolhi a China e o Japão, que, por serem mais distantes, eu poderia ter mais dificuldade em visitar pelos meus próprios meios nos anos seguintes" - a propósito de, nas suas próprias palavras, 'Habilidades à portuguesa', e queixando-se de que o nosso Estado não pagou as despesas.
Pois é! É este o 'nosso' ministro dos Negócios Estrangeiros... Aceitam-se apostas sobre os países que agora, sob a égide de um Sócrates, Sª Exª visitará!
Arrisco sugerir dois, um dos quais gozando de alguma popularidade na net: Vanuatu e Tuvalu.
É!... Para além de 'idiota útil', Diogo Freitas do Amaral não brinca em serviço... mesmo na casa dos sessenta é o perfeito... boy (estavam a pensar em quê?)

segunda-feira, março 28, 2005

Big brother
Escreve o "Diário de Notícias" de hoje que o Governo está a preparar uma base de dados genéticos de todos os portugueses. Em nome do combate ao crime, adianta-se.
O assunto é sensível e perturbante. À partida, de facto, faz-me lembrar o "big brother" orwelliano, um estado policial e, na versão moderna, securitário. Todos os portugueses fichados geneticamente? Parece-me mal, mesmo com a pouca informação disponível e com a convicção de que o ministro responsável, Alberto Costa, tem uma mais que suficiente experiência de perseguição política para estar muito atento...
Mas... Mesmo que o ministro me ofereça garantias, o mesmo não acontece com tudo o resto. Por enquanto - e que se saiba... - os nossos dados fichados são mínimos e dispersos. Ou são já muitos, mas dispersos.
Mas... o meu (os nossos) perfil genético? Por aí à disposição? Parece-me mal, repito. Mesmo numa sociedade mais perigosa, mesmo com uma criminalidade mais científica e violenta. Não estará o Governo a alimentar uma presunção dramática da máquina burocrática do Estado - todos somos suspeitos -?
Em nome da segurança (?), 'aceitamos' ser filmados de cada vez que vamos ao multibanco, aceitamos que os extractos bancários nos digam (e a quantos mais?) onde fizemos os levantamentos, a quem pagámos... Em nome do conforto, aceitamos que a Via Verde nos controle as deslocações (e o estacionamento e os abastecimentos de combustível)... Em nome (outra vez) da segurança, aceitamos entrar em estádios cheios de câmaras, em artérias igualmente vigiadas, em lojas onde nos convidam a sorrir porque estamos a ser filmados...
Em nome da 'segurança' e - quiçá - da eficiência no combate ao crime, querem agora arquivar os meus genes!
É de mais! Em primeiro lugar, há aqui uma questão de direitos fundamentais: estão a querer saber mais do que podem e devem. Depois - como se fosse necessário acrescentar algo... -, há uma questão de confiança nos 'guardiões' da dita cuja base.
Não estou a ver que a 'nossa' PJ - ou seja lá quem for - seja suficientemente idónea para depositária de um base de dados deste tipo. Pois se qualquer processo em segredo de justiça é mais conhecido que um livro aberto...
Não há eficácia de investigação que justifique isto! Não há garantias que nos possam dar - logo se veria se cumpríveis... - que me levem a mudar de opinião. Já 'basta' o SIS, sem controlo eficaz, 'investigando' quem e como quer.

domingo, março 27, 2005

Sobre o litoral

O “Público” de hoje, domingo de Páscoa, ‘descobriu’ que o mar está crescentemente a ameaçar a nossa costa – do Minho ao Algarve (melhor dizendo, de Espanha a Espanha) – e que, desde 1971, nada se fez verdadeiramente para estancar as ameaças.
Pois não! Mas queriam o quê? Medidas radicais num país de patos bravos? Verdade seja dita, o “Público” refere UM caso – entre 1986 e 1989 –, embora não faça justiça ao autor: Carlos Alberto Martins Pimenta, por acaso meu amigo e correligionário dos ‘velhos tempos’, o único governante que teve coragem e, por isso, andou guardado à vista e com poiso errante…
Lembro-me bem desse tempo: lembro-me do que era, por exemplo, a Polvoeira (ali no concelho de Alcobaça), dos insultos que ficaram nas poucas paredes da ‘paisagem lunar’ que restou depois das demolições.
Mas foi, de facto, caso único. Antes e depois, é um fartar vilanagem que comprova quem de facto manda em Portugal: uma propositada indefinição que permite, assim, que cada um faça o que quer, com ou sem necessidade de suborno ou tráfico de influências.
O “Público” escreve o que já escrevi, há uns anos, no “Jornal de Leiria”, num dos trabalhos que mais gozo me deu fazer: uma das ‘culpas’ é das barragens: o défice anual de deposição de inertes no mar é fantástico!
No que ao litoral da região de Leiria diz respeito, a culpa (sem aspas) é também da megalomania da Figueira da Foz e Coimbra, que quiseram transformar o portozinho da Figueira num portozão. Vai daí, toca de prolongar os pontões da foz do Mondego e de aprofundar o leito, chegando-se ao cúmulo de exportar areia para Espanha. É bom dizer que para este desastre que se anuncia também contribuiu o facto de a administração do porto arrecadar o dinheiro da venda da areia.
Por tudo isto, percebe-se a dificuldade de intervir: são muitos interesses, muito poderosos… Só com grande força e coragem políticas será possível.
Porque é preciso mexer com a máquina do Estado, acabando com as quintinhas e dando o poder a uma única entidade. Porque é preciso demolir tudo o que é ilegal, afrontando pequenos, médios e grandes interesses.
Mas são precisas força e coragem políticas para ir ainda mais longe: porque é preciso ‘entrar’ pela propriedade privada e deitar abaixo aquilo que esteja directamente ameaçado e seja mais caro proteger que demolir. Sem hesitações!
Se eu, e todos nós, vamos ter que pagar para proteger o litoral, então que paguemos para proteger o que é de fruição comum e não os egoísmos de uns quantos, que nos anos recentes souberam jogar com as indefinições legais.
Depois, então, será preciso proteger o que só foi colocado em risco por erros a montante.

sexta-feira, março 11, 2005

Lembrando José Régio
Não sei por que me lembrei disto...
Ou talvez lembre e não queira dizer...
De qualquer forma, gosto muito e creio que fica aqui bem.

CÂNTICO NEGRO
"Vem por aqui" --- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
--- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
--- Sei que não vou por aí.
José Régio
11-M
Passa hoje um ano sobre o maior (ou um dos maiores) ataque terrorista na Europa. Quase 200 mortos em Madrid, mais de 1500 feridos, um trauma que não se apagará tão cedo.
Por isso, nos últimos dias quase não se ouve falar de (nem se lê sobre) outra coisa e, hoje mesmo, há um imenso desfilar de personalidades na capital espanhola.
Mas há um outro 11-M que inexplicavelmente passa (quase) despercebido. Hoje, cumprem-se 30 anos sobre o 11 de Março português, uma intentona (ainda mal explicada) que abriu caminho à quase total colectivização da economia portuguesa. E sobre isso, e as suas consequências até à actualidade, nada se ouve, nada se vê, nada se lê...
Admito que seja ainda cedo para se conhecer a verdadeira história do 11 de Março de 1975, sobre o ataque ao RALIS, sobre a 'reacção' do Conselho da Revolução: recorde-se, a nacionalização da banca e dos seguros, dos cimentos e de imensas outras pequenas, médias e grandes empresas.
A 'história' vai dizendo que foi uma intentona da extrema-direita, envolvendo Spínola... Provavelmente foi. Mas era bom que soubéssemos toda a verdade, que fosse possível perceber como a extrema-esquerda reagiu tão pronta e radicalmente. As nacionalizações, o 'pacto MFA-partidos' que condicionou a Constituição...
Hoje, eu gostava de saber por que razão (ou razões) ninguém fala disto...

quarta-feira, março 09, 2005

O melhor sobre Mourinho
Não faz muito o meu género encher este sítio com citações de outros blogs, mesmo que aqui venha com tão grande irregularidade (citar outros sempre enchia esta coisa...), mas hoje li uma coisa sublime.
Ora leiam, com origem no 'Bola na rede': Arsène Wenger, Alex Ferguson e José Mourinho morrem num acidente de avião e vão conhecer o Criador. O Deus supremo vira-se para o Wenger e pergunta-lhe qual a coisa mais importante para ele na vida. Wenger responde, dizendo que a Terra é a coisa mais importante e que proteger o sistema ecológico do planeta é importantíssimo.
Deus olha para o Wenger e diz: “Gosto da maneira como pensas, anda e senta-te aqui ao meu lado esquerdo”
Depois, Deus volta-se para Ferguson e pergunta-lhe qual a coisa que ele mais respeita na vida. Ferguson diz que são as pessoas e as suas escolhas pessoais. Deus acena com a cabeça e diz: “Gosto da maneira como pensas, anda e senta-te aqui ao meu lado direito”.
Finalmente, Deus vira-se para Mourinho, que estava a olhar para Ele com um ar muito indignado. E Deus perguntou-lhe: “Qual é o teu problema Mourinho?”. Mourinho responde-lhe: “Eu acho que Estás sentado na minha cadeira.”

Para ler no original, ir por aqui

terça-feira, março 08, 2005

A gaja nua e o ditador vestido
Ando já há uns dias para vir aqui comentar a grande aquisição socrática para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas faltou-me a inspiração e (também) a paciência para me voltar a referir ao cromo objecto deste post.
Mais tarde, a 'polémica' do retrato provocou-me um sorriso e uma ténue vontade de comentar. Mas já li tanta coisa que desisti...
Até hoje, quando via "O Castelo" (de Ourém), descobri a Elvira André, oureense residente em França e 'dona' do "Tabacaria", um blog português escrito em francês.
Pois a Elvira escreveu este mimo. Por mim, e apesar dos anos e das rugas, preferia o retrato da Cinha, mas Paulo Portas & Cª lá sabem...

terça-feira, março 01, 2005

Os tolos da minha cidade
Aqui há uns meses – talvez já mais de um ano – um grupo de ‘espertos’ da minha cidade movimentou-se contra a intenção camarária de construir um túnel no centro da urbe.
O projecto tinha em vista facilitar a comunicação apeada entre a zona mais antiga – o ‘centro histórico’ – com o jardim e o rio, permitindo, ao mesmo tempo, que o trânsito automóvel numa das principais artérias não fosse muito prejudicado.
Quando esta ideia foi discutida pela primeira vez na Câmara – alguns anos antes – a única dúvida levantada tinha a ver com o ângulo da curva que o dito cujo túnel deveria fazer... Nessa ocasião, nem uma voz da dita ‘sociedade civil’ se levantou, contra ou a favor.
Passou o tempo e, então, um conjunto de ‘iluminados’ descobriu os malefícios do supracitado túnel. Que não havia necessidade, que era uma obra megalómana, que ia ser construído em leito de cheia, que, que... E a Câmara, ‘obediente’, lá abandonou a ideia, mantendo – com a concordância daquele grupo – a ideia de abolir o trânsito na também já referida rua. O que significa, estava bem claro, a divisão da cidade em duas, isolando precisamente a área mais deprimida: precisamente o ‘centro histórico’.
Entre o grupo de ‘espertos’ contavam-se intelectuais bem falantes, arquitectos, engenheiros, políticos (até da maioria PSD) e o presidente da associação comercial.
Entretanto foram-se passando os meses e começa-se agora a perspectivar o corte do trânsito, desviando-o para uma artéria que, em boa verdade, nem com obras vai aguentar o trânsito que agora atravessa o centro do centro da cidade.
Neste interim, aconteceram também eleições na associação comercial. Curiosamente, também antecipadas, porque o presidente de serviço caiu em desgraça, provavelmente porque quis ser engraçado...
E agora... pasmem!... os novos dirigentes dos comerciantes prometem forte contestação ao corte do trânsito! Exigindo, naturalmente, que se deixe ficar tudo como está. Ou melhor, como estava antes das obras – que decorrem – de construção de um parque subterrâneo de estacionamento.
Argumentam eles – e com alguma razão, digo eu – que o corte do trânsito vai matar o que resta das actividades no centro histórico. À crise que se vive, suceder-se-á, inexoravelmente, a desertificação total.
Pois é! Os comerciantes têm razão. Agora.
Mas não tinham pensado nisto quando o seu presidente andou a lutar contra o túnel e a propor o desvio do tráfego para longe? Não repararam? Não pensam? Por que não se manifestaram, em devido tempo, contra a ‘ideia’ do seu presidente?
Pois... E míope sou eu...

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Auschwitz - ensaio para uma explicação
Lido na "Rua da Judiaria":
“Primeiro vieram prender os comunistas, e eu não levantei a minha voz porque não era comunista. Depois vieram prender os sindicalistas e os socialistas, e eu não levantei a minha voz porque não era nem uma coisa nem outra. Depois vieram prender os judeus, e eu não levantei a minha voz porque não era judeu. Depois vieram prender-me e já não restava ninguém para levantar a voz por mim.”
Martin Niemöller, pastor luterano alemão, preso a 1 de Julho de 1937 pelos nazis e enviado para os campos de concentração de Sachsenhausen e Dachau
Idiota útil
Uma ‘definição’, para começar. Os termos ‘idiota’ ou ‘idiotas’ a partir daqui usados são-no na acepção popular (de parvo e afins) e não na definição etimológica de ‘pessoa (ou pessoas) com ideias’.
Ouvi, e já li, sem espanto, que Freitas do Amaral anuncia que vai votar PS no próximo dia 20 de Fevereiro. O fundador do CDS, que se definiu então como "rigorosamente ao centro", um dos pais do segundo governo de Mário Soares, o homem que regressou à liderança do partido para o ajudar a conduzir à quase ínfima espécie, o homem que polarizou a direita contra a esquerda e foi derrotado por Mário Soares, é agora apoiante do PS de Sócrates.
O senhor professor doutor confirma assim um caminho que se adivinhava há muito e que teve um dos episódios mais visíveis na sua grandiosa peça de teatro em que tentou demarcar-se do regime anterior ao 25 de Abril de 1974.
O senhor professor doutor nunca foi homem da minha simpatia. Nunca gostei do seu ar meio beato meio farisaico, não me esqueço do seu papel no fim da AD, quando transformou uma pequena vitória eleitoral numa enorme derrota.
Não me esqueço dos contornos da campanha eleitoral presidencial do senhor professor doutor, de quem se colocou ao lado dele, de quem o apoiou, dos interesses que ele representava. Não me esqueço e cada vez mais gosto de me lembrar da sua derrota – dele e dos seus apoiantes.
O senhor professor doutor de há muito dá sinais de ser ter passado. Principalmente a partir do momento em que Mário Soares o meteu no bolso, fazendo dele presidente de uma inutilidade – a Assembleia Geral da ONU. Sua excelência julgou-se o maior do mundo e, a partir daí, transfigurou-se. Uns meses de luxo em Nova Iorque deram-lhe a volta à cabeça.
O senhor professor doutor, que nunca passou de um político mediano feito (ou tolerado) por Adelino Amaro da Costa, opina sobre tudo e sobre nada, cortou oportunisticamente com a sua família política – provavelmente até cortou duas vezes, a primeira das quais assim que acordou no dia 25 de Abril de 1974... –, colando-se ao sítio de onde pensa que lhe virão maiores vantagens.
É o perfeito idiota útil. Versão século XXI dos "compagnons de route" do ‘anti-fascismo’ comunista.
Tal como sempre desconfiei o senhor não presta para nada. Minto! Presta para isto...
Adenda: Depois de um curto raid sobre alguns blogs, e de reler o que escrevi, vejo-me obrigado a declarar, solenemente, que nunca jamais em tempo algum votei no perfeito idiota. O que escrevi foi motivado apenas pelo nojo que a personagem me provoca.
Auschwitz – eu estive lá
Passam hoje 60 anos sobre a libertação do campo da morte de Auschwitz-Birkenau pelas tropas russas. Auschwitz foi o principal campo de extermínio do regime nazi: em boa verdade, o complexo de Auschwitz eram três campos, o principal dos quais precisamente Birkenau.
Eu estive lá. Não me recordo precisamente do ano – sei que foi nos princípios dos anos 90 –, mas as impressões... essas estão cá todas. Quando lá cheguei, julguei que sabia o que ia encontrar. A segunda Guerra Mundial é um dos factos da História que mais me atrai e tenho lido quase tudo o que apanho sobre isso: seja de um lado ou do outro.
A primeira coisa de que me lembro é o ‘contexto’: uma visita de oito dias à Polónia, prémio alcançado num concurso de fotografia. Tal visita, oferta de uma agência de viagens, não era, afinal, mais que uma peregrinação católica aos principais locais de culto polacos, com destaque para Czestochowa – santuário mariano curiosa, e supostamente, visitado por Hitler, Himmler e companhia. A minha ‘companhia’, portanto, estava mais interessada nos locais de culto do que em campos de extermínio e se se interessou pela visita isso teve mais a ver com o martírio do padre Maximiliano Kolbe – uma das primeiras vítimas, do que pelo que Auschwitz significa de barbárie generalizada e perseguição a raças (fala-se muito dos judeus, mas esquecem-se os ciganos) ou convicções sociais e políticas.
Escrevia, ali em cima, que julgava saber o que ia encontrar. Não sabia...
"Arbeit macht frei"... "O trabalho liberta", numa tradução mais ou menos simplista... Este toque de hipocrisia, digamos assim, que nos recebe a encimar o portão é, digamos, o mínimo. O primeiro choque chega da direita, onde se reproduz, em fotografia, a orquestra de boas vindas aos novos ‘habitantes’.
Daí para a frente, o crescente de horror não pára até aos fornos crematórios. Os blocos de armazenagem de pessoas – ou dos seus restos vivos -, a ilustração do tratamento dado aos bens de quem chegava, aqui incluindo os próprios cabelos, a parede de fusilamentos, as celas de morte, os ‘balneários’ que atravessamos...
Não... ninguém está preparado!
Desconheço em que medida o percurso da visita foi estudado, mas acredito que está tudo previsto para que o horror seja crescente. Crescente até ao ponto de descompressão total. Pelo menos foi isso que aconteceu comigo: é indescritível a sensação de alívio que senti quando, mesmo no final da visita, paramos junto à forca onde morreu o último comandante do campo. Afinal, alguém pagou!
Birkenau, propriamente dito, pouco mais é que uma construção comprida cortada por um portão – precisamente o acesso ferroviário. Muito mais fotografado e divulgado do que Auschwitz propriamente dito, de Birkenau resta muito menos pois quase tudo era de madeira e não foi conservado.
O complexo de Auschwitz devia ser de visita obrigatória... para que se conheça até onde pode ir a barbárie. E para que as teorias ‘revisionistas’ não tivessem campo de propagação, como se vai vendo nos dias que correm. E, já agora, para que o conhecimento do que ali aconteceu servisse como forma de pressão para se saber se, efectivamente, os ‘aliados’ sabiam e podiam ter feito mais alguma coisa.
Em tempo: Há uma incorrecção ali em cima que é importante corrigir. A forca a que me refiro não é a do último comandante do campo, mas do primeiro. Rudolph Höss, de seu nome, executado em 1947.