quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Não sabem do que falam…
O dia de hoje fica marcado pelas manifestações das gentes de Trás-os-Montes (melhor, de uma zona de Trás-os-Montes) contra a pré-anunciada mudança nos serviços de saúde.
São seis concelhos do Norte mais norte de Portugal… Se esta expressão tem cabimento em qualquer ocasião é nesta: é ali que ‘o vento dá a curva’!
Por coincidência, foi precisamente aquela zona que escolhi para descansar nestes dias de Carnaval. Tive, por isso, ocasião de a percorrer toda (e também Mirandela e Bragança).
Andei por aquelas estradas (nacionais e municipais, muitas vezes simples caminhos alcatroados). Cruzei-me até, algures no meio da Serra do Barroso, com uma carrinha ‘Unidade móvel de saúde’.
Por isso, compreendo, e sinto, as angústias de quem ouve dizer que a ‘prestação’ dos cuidados de saúde vai melhorar a partir do encerramento de alguns serviços.
Por isso, não compreendo, e sinto-me revoltado, que o senhor ministro venha aludir e insinuar ‘aproveitamentos político-partidários’ em torno da questão.
Por isso, rio-me, e revolto-me mais, quando ouço o responsável pela Administração Regional de Saúde do Norte dizer que aquelas mudanças só terão lugar quando melhorarem as acessibilidades.
Só um país cegamente governado pelo ‘economês’, pela ‘racionalização de custos’ e pelos ‘simplex’s’ pode admitir as revoluções em curso.
Primeiro, e já de há alguns anos a esta parte, foi o encerramento de escolas. Aqui até percebo o argumentário da ‘socialização das crianças’ e a impossibilidade de assegurar os mesmos recursos a todas as escolas e, portanto, a necessidade de alguma concentração das crianças e dos jovens. Mas arrepia-me a consequência: povoações sem escolas são povoações mortas a prazo curso. Qual é o casal em ‘idade fértil’ que escolhe para viver uma terra que ‘expulsa’ as suas crianças?
Depois, e há bem pouco tempo, ‘atacaram-se’ as maternidades, com o argumento de que, abaixo de um determinado número, o risco de insucesso (e portanto a mortalidade infantil) crescia exponencialmente. Este, francamente, não compreendo de todo, mesmo que admita que a existência de maternidades muito próximas (género Barcelos e Braga, por exemplo) possa implicar desperdício de recursos. Todavia, e pensando por um lado em Trás-os-Montes e por outro em Elvas, a medida parecia-me (e mantenho) inaceitável: só quem não conhece aquela parte de Portugal pode admitir reduzir as coisas a números cegos e só quem não atribui importância à independência nacional (apesar e para além da União Europeia) é que adopta esta medida.
Agora, e para já como corolário, visam-se os serviços de urgência. Tal como quanto às maternidades, não há razões, justificações ou atenuantes. NÃO PODE SER!
Aquela gente vive longe de tudo e de todos, isolada no local de mais difícil acesso em Portugal. Aquela gente é tendencialmente idosa. Aquela gente tem o mais baixo rendimento per capita. Aquela gente ‘não são números’! Aquela gente é portuguesa! Tão portuguesa como a que vive em Lisboa, no Porto, em Coimbra, em qualquer zona do privilegiado litoral.
Vêm agora prometer melhores acessibilidades? Não têm vergonha?
Vêm agora dizer que há motivações ‘político-partidárias’? Não têm decoro?
Vão lá! Vão lá como eu fui. No meu carro, sem batedores, helicópteros e outras mordomias. Vão lá, sozinhos com um mapa: Experimentem ir de Chaves a Montalegre… Melhor: experimentem ir de Montalegre a Chaves com alguém ao lado a contorcer-se com uma indisposição de estômago… E, então, imaginem que a ‘indisposição de estômago’ é um parto prematuro. Ou que é uma 'simples' perna partida…
Pois… Claro que não vão experimentar! Então, ou deitam as alterações para o caixote do lixo, ou vão vocês para o caixote do lixo. Não há outra hipótese!

domingo, fevereiro 11, 2007

O apuramento 'ao vivo' - gato escondido...
Na SIC-N, ouvi o ministro da Saúde admitir que, naturalmente, a realização de abortos será 'contratualizada' com unidades de saúde privadas.
Ora, sabendo-se que a espanhola 'Clínica dos Arcos' tem as suas instalações em Lisboa praticamente prontas, não deixa de ser perturbante esta coincidência!
Vão ter algum trabalho para me convencerem que não estamos perante um 'gato escondido com o rabo de fora'...
O apuramento 'ao vivo' - em Leiria também ganhou o 'sim'
Francamente, acreditava que o 'não' voltaria a ganhar, apesar de todas as sondagens apontarem em sentido contrário.
Estavam certas as sondagens, estava errado eu. E até em Leiria - sempre tido como um distrito 'conservador' - o 'sim' foi maioritário.
Já se percebeu que a legislação vai mudar, o que me parece perigoso do ponto de vista do funcionamento da Democracia: afinal, a maioria entendeu que o assunto não era importante.
O apuramento 'ao vivo ' - idiotas à solta
Estou a seguir o 'debate' na SIC-N e o que estou a ouvir é extraordinário!...
Dois 'especialistas' - uma Fátima qualquer coisa e um André - discorrem aprofundadamente sobre os 'eleitores fantasmas' e a ausência voluntária dos jovens nos cadernos eleitorais. Problemas reais, que os mais ligados e interessados conhecem de há anos, mas que estiveram completamente ausentes do dia-a-dia do debate e da campanha do referendo.
Mas, caramba! Que mau aspecto, que mau perder... eleger estes assuntos como nucleares nesta noite e depois de se saber que a afluência será inferior a 50 por cento e que, por isso, não será vinculativo

sexta-feira, fevereiro 02, 2007


Eu reli!

Saiu já a segunda edição do 'Golpe de estádio', com uma pequena alteração na apresentação da obra de Marinho Neves.
Acabei hoje a (re)leitura e aconselho vivamente ao estimável público que leia o dito cujo.
Sugiro mesmo mais... Leiam-na em simultâneo com 'Eu, Carolina'. É uma verdadeira delícia. E é, ao mesmo tempo, uma prova fascinante de como o nosso País não funciona: afinal, está tudo dito há largos anos!
'Largos dias têm 100 anos', não é o que 'ele' diz? Pois é!
Voto não!
No próximo dia 11, vou votar 'não ' no referendo sobre o aborto.
Vou votar 'não' porque 'ajudei' a aprovar a lei actual.
Vou votar 'não' porque entendo que a legislação existente é bastante para resolver os verdadeiros problemas relacionados com o aborto.
Vou votar 'não' porque quantos mais argumentos alinham pelo 'sim' mais me convenço do 'não'.
Vou votar 'não' porque recuso liminarmente o argumento 'na minha barriga mando eu' e elas andam por aí pelo 'sim'.
Vou votar 'não' porque, em caso de vitória do 'sim', ninguém sabe o que acontecerá no dia seguinte
e eu desconfio que alguém se prepara para envolver o SNS (logo nós todos) nisto e, dessa forma, não só subverter as prioridades de intervenção médica como, e se calhar mais inaceitável, transformar efectivamente o aborto num método contraceptivo.

(Para não dizerem que não conhecem a Lei que nos rege)

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Sobre a 'sentença' de Torres Novas II
Perante o alarido que vai por aí em torno deste caso, só falta, para ficar tudo meridianamente claro, que quem neste caso defende os 'direitos' de um pai que só depois de obrigado soube que o era seja igualmente defensor(a) do direito ao aborto por decisão unilateral das mulheres!...
Porque, afinal de contas, o que a mãe deste criança fez foi o que muitos(as) partidários(as) do 'sim' defendem: a barriga era dela e fez 'dela' o que entendeu - entregou a criança a alguém da sua confiança.
Alguma coisa a opor?

terça-feira, janeiro 16, 2007

Sobre a ‘sentença’ de Torres Novas
Já se sabia que ia acabar assim o julgamento de um indivíduo que, em nome da protecção de uma criança confiada à sua guarda, se recusa a revelar onde a protegeu contra o ‘interesse’ do ‘pai biológico’ (seja lá o que isto for no caso em apreço…)
Mas não é por já se saber como ia acabar que sinto menos revolta.
Admito que o colectivo de juízes não podia agir de outra forma, dado o ‘crime’ (ou os ‘crimes’) de que o sujeito vinha acusado.
Mas, como muito bem observou Inês Pedrosa na “Única” (“Expresso” de sábado passado), não só haverá uma contradição entre as duas ‘acusações’ formuladas como, e principalmente, o que está em causa é a protecção de um direito maior: o direito de uma criança de 4 ou 5 anos ser protegida, no único ambiente familiar que conhece, contra um ‘pai’ que começou por recusar sê-lo (é bom notar que a criança foi originalmente registada como filha de pai incógnito, por o energúmeno recusar assumir o resultado de uma relação passageira e fortuita) para, depois de um teste de ADN, vir a correr dizer que queria a criança, por… assim ter alguma coisa sua!
Admito que o Tribunal de Torres Novas tinha que apreciar os termos da acusação, mas, com a sentença (seis anos de prisão!), mostrou que não enquadrou a situação, não cuidou do direito da criança… Defende Inês Pedrosa no texto que já referi que o tribunal (qualquer tribunal) está obrigado a defender, em primeiro lugar, os direitos ‘maiores’, como será o desta criança.
Este colectivo de Torres Novas, presidido por uma mulher, aparentemente não seguiu esta tese. Andou mal.
E eu, que não conheço o condenado, tenho pena disso mesmo: de não o conhecer, para lhe poder manifestar pessoalmente a admiração e solidariedade que aqui deixo para (quase) ninguém ler…

Sobre o QREN (ou lá como se chama)
Sexa o primeiro-ministro apresentou há poucas horas o QREN (ou lá como se chama o futuro quadro comunitário de apoio).
Não conheço para além de umas linhas muito gerais que, aliás, já ouvi referir há muito. Parece que privilegia os investimentos em anos pré-eleitoral e eleitoral, que vai ‘apostar’ na formação e educação e que só contempla investimentos supra-municipais.
Quanto à aposta no calendário eleitoral… surpresa nenhuma, porque deste governo e deste PS não se espera outra coisa.
Quanto à prioridade na formação e na educação… admito que há que esperar para ver.
Quanto ao financiamento apenas de investimentos supra-municipais, meus caros que (não) me lêem, “saltou-me a tampa” quando ouvi os comentários de um tal Sérgio Figueiredo, parece que director de um qualquer ‘jornal económico’ no Telejornal (sim, o da RTP! Os outros noticiários não se chamam assim). Considera o indígena que esta restrição é qualquer coisa de piramidal, quiçá mesmo ‘ri-fixe’, que – até que enfim! – os autarcas vão deixar de poder construir pavilhões e outros equipamentos em todos os Concelhos!
Este tipo de argumentação é cretino, estúpido, centralista, egoísta e muitas outras coisas que não escrevo! Este tipo de argumentação é típico de gente que habita em Lisboa ou no Porto, com tudo ao pé da porta.
Este tipo de argumentação revela o salazarismo que há em tanta e tanta gente! Portugal é Lisboa (e, vá lá, o Porto…) e o resto é habitado por uns pacóvios que deviam agradecer permanentemente a ‘graça’ de serem governados por estas azémolas. Para estes colonialistas, tudo está bem desde que investido em Lisboa (muito) e no Porto (menos, mas alguma coisa). O resto… o resto se quiser civilizar-se que vá viver para as ‘áreas metropolitanas’ de Lisboa e do Porto.
Apetece-me partir a cabeça a estas bestas! Apetece-me alinhar com um qualquer movimento radical de protesto. Apetece-me entrar pela televisão dentro e dar voz à revolta.
Pavilhões? Sim, em Lisboa e no Porto; em Porto de Mós? Nem pensar, vão a Leiria!
Piscinas? Sim, no Porto e em Lisboa; em Mirandela? Nem pensar, vão a Bragança!
Teatros, cinemas? Sim, imensos ‘multiplex’ em Lisboa e no Porto; em Mangualde? Nem pensar, vão a Viseu!
Ah! É verdade… Parece que neste tal de QREN metade da verba é para construir o TGV! De onde para onde? De Lisboa para o Porto e vice-versa…

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Sobre o naufrágio 'na Nazaré'
Hesitei em comentar algo sobre o acidente do barco de pesca ao largo 'da Nazaré': morreram homens, há famílias de luto...
Mas a quase ausência de apreciações sobre o comportamento dos pescadores decidiu-me!
Em primeiro lugar, e por uma questão de precisão, o naufrágio não aconteceu 'na Nazaré' mas numa praia do Concelho de Alcobaça (por isso é que foram chamados os bombeiros de Pataias, e não os da Nazaré).
Em segundo lugar, sou testemunha dos abusos sistemáticos daquele tipo de barcos de pesca nas águas do litoral do Distrito de Leiria (onde resido e que conheço razoavelmente); provavelmente os pescadores só evitam aproximar-se da costa na zona de São Pedro de Moel e da Nazaré, devido à existência de rochas; o resto é de areias, logo convidativa... Esta forma de actuação contraria as regras e, concomitantemente, prejudica os resistentes da arte xávega.
Em terceiro lugar, ficou claro que os tripulantes do barco não usavam os coletes de salvação.
Por isso, parece-me deslocada e naturalmente exagerada a responsabilização das 'autoridades' neste caso.
Por muito que custe, não aconteceu nada de substancialmente diferente de um acidente de automóvel: o barco 'despistou-se' e os tripulantes não usavam 'cinto de segurança' (como muito bem foi observado por um especialista de que não fixei o nome, creio que na SIC). Ora, se no caso dos acidentes de automóvel geralmente não se responsabiliza o tempo de chegada dos meios de socorro (pelo contrário, a culpa é sempre do 'excesso de velocidade'), por que razão no caso deste barco terá que ser diferente?
O que choca (mas não é de agora...) é a completa ausência de fiscalização da actividade da pesca. Armadores e pescadores fazem o que querem, quando querem, onde querem na mais completa impunidade: se não há dinheiro para barcos, ao menos a Polícia Marítima podia usar binóculos...
('Adaptado' de comentários enviados para o Abrupto e o Portugal dos Pequeninos)