quinta-feira, novembro 27, 2003

Volta a Portugal em disparates
A Agência Lusa disponibilizou hoje um conjunto de "notícias" sobre as oito cidades e dez estádios que vão acolher a fase final do Euro 2004.
Tenho, por razões profissionais, acesso ao trabalho daquela agência noticiosa. Todos os dias passo os olhos pelo material disponibilizado. E o que vi hoje deixou-me à beira da gargalhada: aquilo é uma verdadeira volta a Portugal em disparates.
Querem ler algumas pérolas? Cá vai:
Faro: dista cerca de 290 km de Lisboa (...) Por auto-estrada chega-se da capital através da A2 (auto-estrada do Sul) que quase que as serve. O recurso ao IC1 e ao IP4 são boas opções complementares.
Leiria: cidade de interior, fica no entanto relativamente perto da costa. A 25 km de Leiria encontra-se o santuário de Fátima, um dos mais conhecidos do culto mariânico.
Coimbra: A cidade, da província da Beira Litoral, situa-se bem na região centro do país, quase no litoral. Cresceu nas margens do rio Mondego, tendo a jusante a Figueira da Foz.
Aveiro: Situa-se na região Norte de Portugal, um pouco a Sul do Porto (Beira Litoral). Localidade costeira, com um porto de mar importante até ao início do século passado, é marcada pela ria, onde desaguam vários rios, o maior dos quais o Vouga.
Nem sei bem como classificar o trabalho da Lusa. É impossível perceber onde foi o jornalista (sempre o mesmo) inspirar-se para escrever aquilo tudo.
Aqueles textos correm, a esta hora, muitas redacções de jornais, rádios e televisões quer por cá quer pela Europa (pelo menos).
Desgraçados dos turistas que acreditem no que vão ler, ver ou ouvir...

domingo, novembro 23, 2003

Maria Rita
Fantástico! "Encontros e despedidas" - original de Milton Nascimento - interpretado por Maria Rita. Vim aqui de propósito só para vos dizer isto.
Maria Rita, filha de Elis Regina, gravou agora o seu primeiro disco, aos 26 anos (creio), e está a fazer sucesso no Brasil. O CD chegou agora a Portugal e fui a correr comprá-lo. Estou agora a ouvi-lo com atenção e digo-vos que é verdadeiro o ditado popular: "quem sai aos seus..."
Maria Rita é dona de uma voz fabulosa. Como a mãe.

quinta-feira, novembro 20, 2003

"Irreverentes"
Só hoje me apercebi da extensão do comportamento dos meninos da selecção de futebol sub-21 depois do jogo em França.
As imagens que vi são bem ilustrativas da barbaridade de uns quantos imbecis arvorados em vedetas nacionais e, já, internacionais do chuto na bola. No mínimo, e sem castigos internacionais, nunca mais vestiam a camisola da selecção nacional.
Li também que a Federação de Futebol garante que os meninos vão pagar os estragos, pedir desculpas, sei lá mais o quê.
Mas ouvi agora numa televisão qualquer o presiente da federação garantir que vai exigir um pedido formal de desculpas ao seleccionador francês, porque este terá dito que os portugueses não estavam no seu estado normal.
É preciso lata!
O episódio de terça-feira, e dias seguintes, em França é bem elucidativo do que é o futebol: primeiro, os meninos partiram o balneário todo; depois, o selecionador francês vem com aquela do "estado normal" e fala numa seringa esquecida no balneário; em resposta, o médico da selecção nacional responde para garantir que o que estará na seringa é um anti-inflamatório; por fim, o presidente da Federação exige desculpas.
Isto é o que eu conheço, porque há ainda uma referência qualquer ao facto dos responsáveis portugueses tere, recusado um qualquer controlo anti-doping.
Tudo muito "instrutivo", especialmente quando envolve jovens com 21 anos ou menos.
Depois queixam-se, ou remetem para a "irreverência"...

sexta-feira, novembro 14, 2003

E não se pode mudar a Justiça?
Hoje perdi mais uma manhã no tribunal. Sou, apenas, testemunha de um amigo, mas senti-me tratado como "proto-delinquente".
Em primeiro lugar, pelas instalações indignas que nos são reservadas (um simples átrio, com poucas cadeiras e, mesmo estas, de madeira).
Depois pela forma como os funcionários nos tratam (abaixo de cão e do cimo de uma importância que suponho não terem).
Em terceiro lugar, ainda o modo como os funcionários se dirigem a quem espera naquelas condições, tentando obter um silêncio que obviamente não podem exigir: se não há instalações decentes, a culpa não é nossa.
Em quarto lugar, pelo desrespeito máximo: duas horas e meia à espera... para saber que tenho de lá voltar na próxima semana. O mesmo que acontecera há 15 dias...
A propósito, já repararam como a coisa funciona dentro da sala de audiências? Por que razão as testemunhas (e o próprio arguido têm de ficar de pé? Não vos cheira um pouco ao pré-25 de Abril de 74? A mim cheira.

domingo, novembro 09, 2003

Hipocrisia.media II
Li agora o que Pacheco Pereira escreveu sobre os mesmos textos do "Público". Ele defende que não há objecções à "actividade política legítima de qualquer jornalista, incluindo o exercício de funções como autarca, deputado, dirigente partidário, etc".
Já se viu que não estou de acordo e para ilustrar o desacordo permitam que aqui deixe dois exemplos da minha "parvónia".
A. era há alguns anos jornalista de um semanário ligado à Igreja Católica; entretanto, fundou um mensário na terra dele - de que é director - e viu-se nomeado director da "casa da cultura" local; nas anteriores eleições autárquicas, foi candidato à Assembleia Municipal pelo PSD (partido maioritário), desempenhando hoje as funções de secretário da respectiva Mesa; mais tarde, fundou uma empresa editora de livros e outras publicações; há coisa de um mês foi designado presidente do Conselho de Administração de um outro semanário e, uma semana depois, director da publicação; que se saiba, apenas prescindiu do lugar no semanário da Igreja.
L. é chefe de redacção do "tal" semanário da Igreja Católica. Tal como A., também é director do jornal da terra dele e, ainda como A., também concorreu pelo PSD à Assembleia Municipal do concelho dele (por acaso o PSD também é maioritário).
Ambos os "jornalistas" não se coibiram de assinar entrevistas a autarcas do seu partido, mas isso aqui pouco importará.
O importante é perceber se se pode efectivamente servir dois senhores e se é humanamente possível separar absolutamente as águas, como se um hemisfério do cérebro pensasse política (ou negócios, ou cultura, ou desporto) e a outra pensasse jornalismo.
O melhor exemplo de que é impossível separar as águas é dado pelo "jornalismo desportivo", principalmente a norte: tudo pelo FC Porto, nada contra o FC Porto. Mas isto também os deputados e outros políticos praticam...
Hipocrisia.media
Leio hoje no "Público" (aqui, aqui e aqui) mais uns quantos escritos sobre o "trânsito" de jornalistas entre as redacções dos órgãos de comunicação social e assessorias diversas, com destaque para as políticas.
Eu, que sou do meio e me gabo de ter alguma memória, não me lembro de indignações semelhantes em ocasiões anteriores.
Não me lembro de, no final do governo de Cavaco Silva, ter ouvido (ou lido) qualquer coisa de semelhante; não me lembro de, há menos de dois anos, ter lido ou ouvido sequer uma interrogação sobre o destino dos assessores dos membros do governo de Guterres.
Não me lembro, igualmente, de notícias sobre inqueitações em torno de ex-assessores de autarcas, candidatos a PR, responsáveis de empresas públicas, etc, etc. Não me lembro, igualmente, de qualquer laivo de inquietação ou indignação sobre jornalistas/políticos, jornalistas/opinadores, jornalistas/candidatos. Ninguém se inquieta por o presidente do Sindicato ter sido candidato da CDU, ninguém se questiona por tantos e tantos jornalistas tomarem posições políticas em abaixo-assinados, ninguém se inquieta por haver cada vez mais jornalistas a assinarem textos de opinião nos jornais onde escrevem notícias.
Cai agora o "Carmo e a Trindade" por causa de Fernando Lima. Talvez até caia bem: parece-me excessivo que o senhor tenha transitado quase directamente de um gabinete ministerial para a cadeira de director do "Diário de Notícias".
Mas, quanto a mim, o que está mal é que o senhor (todos os senhores e senhoras) possa regressar à profissão antes de decorrido muito tempo (nunca menos de um ano?). E não me venham dizer que podem regressar desde que não seja para a área que assessoraram: a verdade é que, dentro da redacção, podem perfeitamente continuar a influenciar os escritos, com o inconveniete suplementar de quem lê não saber quem efectivamente escreveu...
Estas posições tresandam a hipocrisia.