quinta-feira, janeiro 27, 2005

Auschwitz – eu estive lá
Passam hoje 60 anos sobre a libertação do campo da morte de Auschwitz-Birkenau pelas tropas russas. Auschwitz foi o principal campo de extermínio do regime nazi: em boa verdade, o complexo de Auschwitz eram três campos, o principal dos quais precisamente Birkenau.
Eu estive lá. Não me recordo precisamente do ano – sei que foi nos princípios dos anos 90 –, mas as impressões... essas estão cá todas. Quando lá cheguei, julguei que sabia o que ia encontrar. A segunda Guerra Mundial é um dos factos da História que mais me atrai e tenho lido quase tudo o que apanho sobre isso: seja de um lado ou do outro.
A primeira coisa de que me lembro é o ‘contexto’: uma visita de oito dias à Polónia, prémio alcançado num concurso de fotografia. Tal visita, oferta de uma agência de viagens, não era, afinal, mais que uma peregrinação católica aos principais locais de culto polacos, com destaque para Czestochowa – santuário mariano curiosa, e supostamente, visitado por Hitler, Himmler e companhia. A minha ‘companhia’, portanto, estava mais interessada nos locais de culto do que em campos de extermínio e se se interessou pela visita isso teve mais a ver com o martírio do padre Maximiliano Kolbe – uma das primeiras vítimas, do que pelo que Auschwitz significa de barbárie generalizada e perseguição a raças (fala-se muito dos judeus, mas esquecem-se os ciganos) ou convicções sociais e políticas.
Escrevia, ali em cima, que julgava saber o que ia encontrar. Não sabia...
"Arbeit macht frei"... "O trabalho liberta", numa tradução mais ou menos simplista... Este toque de hipocrisia, digamos assim, que nos recebe a encimar o portão é, digamos, o mínimo. O primeiro choque chega da direita, onde se reproduz, em fotografia, a orquestra de boas vindas aos novos ‘habitantes’.
Daí para a frente, o crescente de horror não pára até aos fornos crematórios. Os blocos de armazenagem de pessoas – ou dos seus restos vivos -, a ilustração do tratamento dado aos bens de quem chegava, aqui incluindo os próprios cabelos, a parede de fusilamentos, as celas de morte, os ‘balneários’ que atravessamos...
Não... ninguém está preparado!
Desconheço em que medida o percurso da visita foi estudado, mas acredito que está tudo previsto para que o horror seja crescente. Crescente até ao ponto de descompressão total. Pelo menos foi isso que aconteceu comigo: é indescritível a sensação de alívio que senti quando, mesmo no final da visita, paramos junto à forca onde morreu o último comandante do campo. Afinal, alguém pagou!
Birkenau, propriamente dito, pouco mais é que uma construção comprida cortada por um portão – precisamente o acesso ferroviário. Muito mais fotografado e divulgado do que Auschwitz propriamente dito, de Birkenau resta muito menos pois quase tudo era de madeira e não foi conservado.
O complexo de Auschwitz devia ser de visita obrigatória... para que se conheça até onde pode ir a barbárie. E para que as teorias ‘revisionistas’ não tivessem campo de propagação, como se vai vendo nos dias que correm. E, já agora, para que o conhecimento do que ali aconteceu servisse como forma de pressão para se saber se, efectivamente, os ‘aliados’ sabiam e podiam ter feito mais alguma coisa.
Em tempo: Há uma incorrecção ali em cima que é importante corrigir. A forca a que me refiro não é a do último comandante do campo, mas do primeiro. Rudolph Höss, de seu nome, executado em 1947.

Sem comentários: