quarta-feira, agosto 13, 2003

Intervalo
Meus caros: entrei de férias e vou para um sítio onde a internet é mais cara (por mais lenta) que o habitual. Por isso, e salvo imponderáveis, o mocho não voa na próxima quinzena...
Triste realidade
Garanto que isto não se vai tornar uma espécie de copia e cola, muito menos o resumo do que vou lendo em outros blogs. Mas hoje é a segunda coisa que leio e me deixa de boca aberta de tão certeiro.
Leiam aqui:
Desburocratização
O homem andou dois anos de repartição em repartição, de guichet em guichet, para obter um papel que lhe permitisse abater 60 pinheiros, por forma a aumentar uma linha corta-fogo.
Esta semana finalmente viu o seu problema resolvido.
Certeiro mais certeiro não há
Ena! Uma semana inteira sem uma única "entrada" nisto que pretendia ser um arremedo de diário!
É verdade. Tem faltado o tempo e a disposição, que o calor é tanto que não deixa margem para grandes ocupações depois do obrigatório trabalho. E este não dá tréguas, tal como os fogos...
O que me traz aqui hoje (precisamente na véspera de entrar de férias, e portanto com algum tempo menos ocupado no emprego) é uma frase lida durante o raid sobre os blogs do costume.
Ela reza assim: "O que fica para lá do litoral do país é uma massa de gente que sobrou". Pode ser lida aqui e é, na minha modesta opinião, fenomenal para explicar tudo o vamos vendo, ouvindo e lendo nestas últimas duas semanas.
Está no título: certeiro mais certeiro não há. Podemos, sobre os fogos, discutir tudo (e algumas coisas já estão algures lá para trás, certamente no arquivo). A falta de meios dos bombeiros ou o desordenamento da floresta, a incompetência dos comandos ou a não-existência de um ministro, o clima, o azar, a imprudência, a negligência: o tema é inesgotável.
Mas... Na base de tudo está uma situação que oiço há quase três décadas a Gonçalo Ribeiro Telles: a concentração de população nas periferias das grandes (e pequenas e médias, acrescento eu) cidades teria como consequência, mais cedo ou mais tarde, a destruição da floresta, como teria de todo o mundo rural. Já está!
Bastou que se reunissem todos os elementos para o País ver - mas temo não perceber - o que estava escrito viria a acontecer. Portugal vive "inclinado" para o mar e está-se nas tintas para quem ficou "na terra": vai-se lá pelo Natal, no Verão (quando muito...) para a festa da aldeia e pronto! Em Lisboa, no Porto, ou no intervalo entre estas duas cidades, comportamo-nos da mesma forma do que os que emigraram para Paris...
Pois é! Lá longe, aí a 30 quilómetros da costa, vivem os que sobraram. Mais velhos, mais fracos, mais abandonados, menos capazes... Agora choramos com eles. Que não sejam, ao menos, lágrimas de crocodilo.

quinta-feira, agosto 07, 2003

Sem palavras
Depois de um dia particularmente prolixo (pensam que se confunde com "pró lixo"? ), fiquei completamente sem palavras.
Alguma vez imaginaria o que estava reservado para os dias seguintes? Fogo por todo o lado (domingo "ardiam" 13 dos 18 distritos)...
Fiquei esmagado. Aldeias, vilas, pelo menos uma cidade rodeadas de labaredas, sufocadas pelo fumo e pelo desespero. Ministros e outros notáveis a multiplicarem declarações vazias e ocas, enquanto os cidadãos viam os seus bens consumidos, mais de uma dezena de mortos.
É muito!
Não vale a pena discorrer sobre causas, efeitos, culpados. O rol é tão grande!... Mas uma coisa tenho como certa. Figueiredo Lopes devia ter vergonha. E sair. Nem que fosse empurrado.

sexta-feira, agosto 01, 2003

Ainda mais sobre fogos
O senhor ministro da Administração Interna disse que a intervenção dos meios de combate aos fogos tem sido positiva (aqui).
Ainda bem. Ficamos todos muito mais descansados. Suspeito mesmo que as imagens que as televisões estão a passar e as fotos que os jornais publicam são de arquivo ou de um outro qualquer país onde, por acaso, a língua oficial é a portuguesa.
Será que nem a vergonha os cala?
Os generais no seu labirinto
Os senhores generais que ontem se reuniram para jantar concluíram que o ministro da Defesa é réu de “tentativas de intromissão” em áreas de competência das esferas militares (ler, por exemplo, aqui e aqui). É solene... Com que então o ministro da Defesa (que penso que ainda tem a tutela sobre as Forças Armadas) tentou intrometer-se em áreas reservadas aos militares! Tribunal de guerra com ele, já!
Os senhores generais concluíram mais. Concluíram que se agravou a “grande carência orçamental do Exército”. Acredito, mas pergunto-me se as Forças Armadas são uma ilha no País, que não tenha, como os outros, de respeitar algumas restrições financeiras.
Os senhores generais alongam ainda as suas razões, falando de uma “confiança ética” que os políticos têm de merecer dos comandos da tropa. Os senhores generais pensarão que estamos em 1974 e 75, com a Junta de Salvação Nacional e o Conselho da Revolução? Não estamos e já somos adultos!
Antes de se sentar à mesa, o senhor general Garcia dos Santos terá garantido que o jantar não tinha qualquer “intenção política”. Claro que não! Encontraram-se por acaso e, por acaso, resolveram mostrar que existem já que, ainda segundo aquele senhor general, “sempre que passamos para a reserva somos esquecidos”.
Mas melhor é a justificação de Ramalho Eanes para a sua presença: é um “cidadão empenhado”! Eu também sou e, no entanto, não fui convidado. Será que se esqueceram ou é por nunca ter usado farda?
Mais sobre fogos
O "Público" de hoje acrescenta mais uma acha para (apagar) a fogueira.
Em substância, o que se passa é que há um sistema de detecção de incêndios florestais com recurso a satélites que está pronto a usar. Basta que o Governo compre o hardware necessário.
Mas, acrescento eu, parece que o dinheiro está a ser utillizado para pagar o aluguer de aviões e helicópteros...
Uma democracia que não é a minha
Nove (9!) senhores generais do exército português reuniram-se ontem ao jantar. Oito deles, se não me engano, estão na reserva (ou na reforma), o que os transforma, pelo menos em tempo de paz, em vulgares cidadãos como eu ou qualquer de vós que me leia.
Nove generais sentaram-se à mesa de um restaurante para ouvir de um deles as razões de queixa relativamente ao poder político. Nós até sabemos o fundamental: aquele único que está no activo perdeu a confiança no seu chefe - caso notável, este de um subordinado perder a confiança em quem manda nele...
Nove generais que invocaram a democracia para se juntarem. Nove generais que ousaram desafiar a democracia, contestando - corporativamente - quem tem uma legitimidade que resulta do voto popular.
Recuemos mais alguns dias. Não sei se nove - talvez mais, talvez menos - notáveis civis reuniram-se - quiçá ao jantar... - e assinaram um texto em que, em nome da democracia, pedem nem sei bem o quê relativamente à nossa Justiça. Entre estes notáveis contam-se não sei quantos deputados e ex-deputados, um ex-Presidente da República (que também foi deputado e primeiro-ministro e é deputado europeu), um candidato derrotado à Presidência da República (que também foi deputado, vice-primeiro-ministro e, até, presidente da Assembleia Geral da ONU).
Algo me separa profundamente de todos estes senhores e senhoras. Algo que ultrapassa divergências ideológicas e diferenças de análise conjuntural.
Tal como eles (todos?) não gosto de Paulo Portas. Tal como eles (todos?) desconfio de Durão Barroso e do conjunto de nulidades que o rodeiam.
Onde os nossos caminhos se separam é logo ali a seguir.
Porque eu, não gostando particularmente deste governo, respeito o voto popular e sei que tenho que esperar pelas próximas eleições para "dizer" o que penso. Seja da tropa, da justiça, das gravatas dos senhores ou dos lenços das senhoras.
Eles, pelo contrário, estão convencidos que o povo foi cacicado ou se enganou. E não admitem que quem detém o poder não sejam os seus amigos. Eles pensam a democracia como um instrumento ao seu serviço, dos amigos e dos interesses. Eles não admitem que o seu tempo está a passar (ou já passou). Eles esquecem que, para o bem ou para o mal, quem hoje ocupa o poder são os filhos deles: se são maus... é porque foram formados assim!
Para acabar com quem comecei. O problema dos tropas (do exército em particular) é que quiseram acabar com a guerra colonial e manter as mordomias. Mas o dinheiro não chega para sustentar tantos generais e outros oficiais superiores, mais os inferiores, os sargentos, os praças e a modernização do material. Eles não querem perceber que é mais importante um fontanário de aldeia que uma bala e que o dinheiro que gastamos para eles preguiçarem nas paradas dos quartéis era mais bem empregue no reforço da vigilância das florestas, por exemplo!