quarta-feira, outubro 15, 2003

Uma manhã no tribunal
Um qualquer tribunal português. Quarta-feira, 9:30 horas (da manhã... sublinhe-se). Hora marcada para um julgamento em que este vosso criado é testemunha.
Falta à primeira chamada, mas presença na segunda. Quase toda a gente presente. Espera.
Meia hora (mais ou menos) depois, o "povo" é chamado (em magote...) para a sala de audiências. Grande e quase vazia. Lá em cima, o senhor doutor juiz. De ambos os lados, defesa e acusação. Ao meio, o réu. Atrás, sentados nos lugares do público, testemunhas pró e contra. Lá fora, o burburinho que caracteriza qualquer lugar público.
No sala começa um estranho "triálogo" entre as partes: defesa, acusação e juiz, não necessariamente por esta ordem. Cá "em baixo", porém, nada se percebe. Mas ali ficamos, estupidamente incómodos em bancos de madeira, sem ouvir nada do que é dito, portanto sem perceber o que se passa... simplesmente à espera.
Passa-se uma hora (mais coisa menos coisa). Percebemos que os protagonistas - juiz, acusação e defesa -, ditam palavras que uma funcionária escreve à mão (parece que o computador estava avariado).
No fim daquilo tudo, somos convidados a sair. À porta da sala, a mesma pessoa que tinha feito a chamada, comunica-nos que o julgamento fora adiado.
Alguns de nós voltaremos daqui a três semanas. Outros daqui a um mês.
Nunca tinha estado numa situação semelhante. Aliás, nunca tinha acompanhado o início de um julgamento. Durante aquela hora e meia de seca, perguntei-me muitas vezes se é "isto" a Justiça: se é justo incomodar um conjunto de pessoas, intimá-las a comparecer numa determinada hora de um determinado dia, para depois serem sujeitas do "jogo" dos advogados e, pior do que isso, serem actores involuntários de um conjunto de procedimentos pouco menos que idiotas.
Se uma das partes pretende adiar o julgamento, por que não é obrigada a tentar isso antes do dia marcado, por forma a não incomodar terceiros?
Se somos obrigados a estar ali, por que não temos o direito de ouvir o que se passa?
É transparente uma Justiça que os cidadãos não ouvem?
Para aque serve a fantochada dos julgamentos à porta aberta, se o sistema de som instalado não é posto em funcionamento?

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