domingo, novembro 09, 2003

Hipocrisia.media
Leio hoje no "Público" (aqui, aqui e aqui) mais uns quantos escritos sobre o "trânsito" de jornalistas entre as redacções dos órgãos de comunicação social e assessorias diversas, com destaque para as políticas.
Eu, que sou do meio e me gabo de ter alguma memória, não me lembro de indignações semelhantes em ocasiões anteriores.
Não me lembro de, no final do governo de Cavaco Silva, ter ouvido (ou lido) qualquer coisa de semelhante; não me lembro de, há menos de dois anos, ter lido ou ouvido sequer uma interrogação sobre o destino dos assessores dos membros do governo de Guterres.
Não me lembro, igualmente, de notícias sobre inqueitações em torno de ex-assessores de autarcas, candidatos a PR, responsáveis de empresas públicas, etc, etc. Não me lembro, igualmente, de qualquer laivo de inquietação ou indignação sobre jornalistas/políticos, jornalistas/opinadores, jornalistas/candidatos. Ninguém se inquieta por o presidente do Sindicato ter sido candidato da CDU, ninguém se questiona por tantos e tantos jornalistas tomarem posições políticas em abaixo-assinados, ninguém se inquieta por haver cada vez mais jornalistas a assinarem textos de opinião nos jornais onde escrevem notícias.
Cai agora o "Carmo e a Trindade" por causa de Fernando Lima. Talvez até caia bem: parece-me excessivo que o senhor tenha transitado quase directamente de um gabinete ministerial para a cadeira de director do "Diário de Notícias".
Mas, quanto a mim, o que está mal é que o senhor (todos os senhores e senhoras) possa regressar à profissão antes de decorrido muito tempo (nunca menos de um ano?). E não me venham dizer que podem regressar desde que não seja para a área que assessoraram: a verdade é que, dentro da redacção, podem perfeitamente continuar a influenciar os escritos, com o inconveniete suplementar de quem lê não saber quem efectivamente escreveu...
Estas posições tresandam a hipocrisia.

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