domingo, novembro 09, 2003

Hipocrisia.media II
Li agora o que Pacheco Pereira escreveu sobre os mesmos textos do "Público". Ele defende que não há objecções à "actividade política legítima de qualquer jornalista, incluindo o exercício de funções como autarca, deputado, dirigente partidário, etc".
Já se viu que não estou de acordo e para ilustrar o desacordo permitam que aqui deixe dois exemplos da minha "parvónia".
A. era há alguns anos jornalista de um semanário ligado à Igreja Católica; entretanto, fundou um mensário na terra dele - de que é director - e viu-se nomeado director da "casa da cultura" local; nas anteriores eleições autárquicas, foi candidato à Assembleia Municipal pelo PSD (partido maioritário), desempenhando hoje as funções de secretário da respectiva Mesa; mais tarde, fundou uma empresa editora de livros e outras publicações; há coisa de um mês foi designado presidente do Conselho de Administração de um outro semanário e, uma semana depois, director da publicação; que se saiba, apenas prescindiu do lugar no semanário da Igreja.
L. é chefe de redacção do "tal" semanário da Igreja Católica. Tal como A., também é director do jornal da terra dele e, ainda como A., também concorreu pelo PSD à Assembleia Municipal do concelho dele (por acaso o PSD também é maioritário).
Ambos os "jornalistas" não se coibiram de assinar entrevistas a autarcas do seu partido, mas isso aqui pouco importará.
O importante é perceber se se pode efectivamente servir dois senhores e se é humanamente possível separar absolutamente as águas, como se um hemisfério do cérebro pensasse política (ou negócios, ou cultura, ou desporto) e a outra pensasse jornalismo.
O melhor exemplo de que é impossível separar as águas é dado pelo "jornalismo desportivo", principalmente a norte: tudo pelo FC Porto, nada contra o FC Porto. Mas isto também os deputados e outros políticos praticam...

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